quarta-feira, 3 de março de 2010

Sinal de alerta para os manguezais no municpio de Curuçá

Estudos realizados no Museu Goeldi revelam como o crescimento urbano
desordenado contribui para a destruição dos manguezais do Pará


O desmatamento do mangue pela ocupação humana é o impacto mais expressivo em município da costa paraense. O locus do estudo desenvolvido no âmbito do Projeto Renas do Museu Paraense Emílio Goeldi é Curuçá, no nordeste do Estado. A conclusão é da bolsista de iniciação científica Gláucia Cristina Souza Ferreira, que passou um ano investigando as principais ações de degradação ambiental causadas pela ação humana na Reserva Extrativista Marinha Mãe Grande, localizada no município.

A construção de casas próximas ou em áreas protegidas de mangue e a retirada de madeira de lei para produção de carvão, além da captura de caranguejos por método predatório conhecido como tapagem e a destinação inadequada do lixo produzido pela população, são algumas das principais causas da degradação ambiental da Resex, cuja área corresponde a 37 mil hectares que abrigam manguezais.



Intitulada “Impactos antrópicos na região costeira do Pará: o caso de Mãe Grande em Curuçá (PA)”, a pesquisa foi realizada na sede do município de Curuçá e na localidade de São João do Abade, um dos principais entrepostos comerciais de pescado da região. Da investigação, resulta a identificação da área de mangue mais degradada de Curuçá: o bairro Bragantino, localizado na comunidade do Abade, cuja formação e contínua ocupação humana têm avançado sobre os manguezais da Resex.


“A moradia perto das áreas de mangue facilita o acesso ao trabalho na pesca e evita o roubo dos apetrechos das embarcações, prática que ocorre com freqüência, segundo os pescadores”, explica a jovem pesquisadora, que cursa Pedagogia na Universidade Federal do Pará (UFPA).

O crescimento desordenado do bairro Bragantino também é reflexo do intenso processo de migração com o qual a região se depara. “O município de Curuçá desperta interesse pelo seu potencial pesqueiro e isso tem ocasionado uma forte migração de pessoas para a região em busca de trabalho na pesca”, explica Gláucia.



Há ainda outro fator que desperta interesse pela região: a expectativa de geração de empregos com a implantação do Terminal Marítimo do Espadarte na foz do rio Curuçá. “Os pescadores temem pela pesca, pois o porto será construído no ponto mais fundo da foz o que, na opinião deles, pode ameaçar a produção de pescado”.



Conflitos - Resultado do crescimento urbano desordenado, o aterramento de manguezais para a construção de casas também é uma prática freqüente em outro importante centro pesqueiro do estado: o município de Vigia, localizado na zona do Salgado, nordeste paraense.



De acordo com o estudo realizado pela também bolsista de iniciação científica do Renas, Regiane Monteiro Alves, que identificou as principais situações de conflitos da pesca artesanal em Vigia, o aterramento dos manguezais para construção de residências é uma ação que gera tensões e conflitos no município. “Devido à questão de roubo e pirataria, o pescador prefere ficar próximo do local e de seus apetrechos de trabalho”, relata Regiane.

Texto: Maria Lúcia Morais, Agência Museu Goeldi.
Fotos: Acervo Renas/MPEG.






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